Bienal das Amazônias terá três artistas visuais indígenas do Amazonas

A maior Bienal de arte da Amazônia brasileira e internacional reunirá a excelência de artistas visuais da região amazônica, em Belém no Pará

As artistas visuais indígenas do Amazonas Duhigó (Tukano), Iwiri-Ki (Apurinã) e Sãnipã (Apurinã/Kamadeni) representadas pela Manaus Amazônia Galeria de Arte, estarão presentes com suas obras na 1ª Bienal das Amazônias, que acontece de 4 de agosto a 5 de novembro, na Rua Senador Manoel Barata, 400, em Belém, no Pará. Completam as representantes do Amazonas as artistas visuais Keila Sankofa e Manauara Clandestina. Com o tema “Bubuia: Águas como Fonte de Imaginações e Desejos”, a Bienal contará com 120 artistas de oito países da Pan-Amazônia, além da Guiana Francesa. Do Brasil, estarão presentes representantes dos nove Estados da Amazônia Legal.

O corpo curatorial da Bienal é composto por 3 mulheres, Keyna Eleison, Sandra Benites e Vânia Leal, única curadora da Amazônia brasileira. Elas assinam o corpo curatorial da amostra de artes, intitulado “Sapukai”, palavra da língua Tupi que pode ser traduzida para o Português como “grito”, “clamor” ou “canto”. Os artistas que comporão a mostra foram cuidadosamente selecionados por Sapukai com o intuito de assegurar a representatividade de todos os povos formadores da Pan-Amazônia, além da proposta de despertar a reflexão sobre como se faz arte na região, sem estereótipos.

“A lista foi construída olhando para uma Amazônia profunda, que tem a perspectiva de que não existe uma produção amazônica e sim um rizoma de multifacetadas individualidades. Olhar por este caminho traz um projeto de discussão sobre a Amazônia, que leva em conta atores geopolíticos e suas pluralidades culturais. Meu olhar sobre os percursos curatoriais superou fronteiras legais com um compromisso com o contexto Amazônico”, ressalta Vânia Leal, que soma no currículo várias curadorias feitas por todo o país.

Já a curadora Keyna Eleison destaca o fato de as obras escolhidas refletirem histórias individuais e coletivas dos artistas, assim como percursos artísticos bastante diversos. “Vai ser possível observar como as particularidades das obras conversam entre si. Essa lista de artistas constrói vários movimentos nesse sentido, várias personalidades nesse lugar, então, ela não tem uma definição fixa, está no movimento em si. É uma forma complexa e muito sofisticada de imaginar uma coletividade de trabalhos a serem apresentados num espaço. Não só num espaço como numa cidade, como em todo um território, que não é só um simples território, mas um território marcado pela água”, analisa Keyna, escritora e pesquisadora, também com vasta experiência em curadorias nacionais.

A temática desta primeira edição é inspirada na obra do poeta abaetetubense João de Jesus Paes Loureiro, que defende o conceito do “dibubuísmo” amazônico, uma referência à relação estética e cultural entre as águas e os corpos que habitam este território.

De acordo com o diretor da Manaus Amazônia Galeria de Artes, Carlysson Sena, o marco da presença indígena na Bienal está dentro de contexto necessário para eventos de arte na Amazônia que devem reconhecer a presença destes artistas contemporâneos, não mais de forma pejorativa. “A Bienal das Amazônias é um avanço importante para o sistema da arte em nossa terra. Deve ser apoiada e incentivada por todos da Amazônia brasileira e ser a referência nacional quando falamos de arte contemporânea produzida na Amazônia”, destacou Carlysson.

INDÍGENAS

Para Duhigó ser escolhida para Bienal das Amazônias tem um sabor especial, pois se trata de um reconhecimento “dentro da Amazônia”. “Eu estou muito feliz com essa escolha das minhas obras que falam da minha cultura Tukano, histórias do passado e do tempo da criação do mundo”, disse Duhigó. A artista é a veterana no sistema da arte amazonense, com obras suas em importantes acervos, como o do Museu de Arte de São Paulo (MASP) e a Pinacoteca do Estado de São Paulo. Já Sãnipã, premiada em 2020 pela Bienal Naifs do Brasil, do SESC Piracicaba, vê a chegada de seu trabalho na Bienal das Amazônias como uma forma de reconhecimento de seu povo. “Meu trabalho é voltado para manter viva a cultura dos Apurinã e Kamadeni e estar na Bienal é uma forma de conquistar esse espaço”, afirma Sãnipã.

Para Iwiri-ki, estreante em grandes exposições o momento é de agradecer e renovar as energias para seguir em frente. “São tantas dificuldades na vida, mas quando recebemos uma boa notícia desta de que meu trabalho é visto e reconhecido pela primeira Bienal da Amazônia eu me sinto motivada, feliz e confiante no meu futuro”, explicou Iwiri-ki.

CURADORIA

Sobre as artistas indígenas do Amazonas a curadora Vânia Leal destaca características que agregam ainda mais valor às obras de artes que serão apresentadas, como por exemplo, a própria história de vida e a concepção que inspira cada uma delas.

“Sãnipã é uma artista ativista, e é importante ressaltar o processo dela, que vem da resistência, tornando-se a primeira indígena da etnia Apurinã, que se profissionaliza de fato em artes visuais. Além de toda a concepção artística cultural, ela vem agregar ao processo de educação, suas telas ressaltam a experiência dela com a floresta. Já a Duhigó tem um comprometimento muito grande com toda a cultura ancestral da Amazônia na concepção de uma cosmovisão indígena, com trabalhos que retratam o cotidiano dos povos indígenas, além disso traz também elementos ritualísticos. A artista Iwiri-Ki vem para a primeira Bienal da Amazônias com uma proposição de marchetaria, sendo a primeira artista plástica da etnia Apurinã, na Amazônia, que tem essa poética. Ela diz que lidar com a arte da marchetaria foi como aprender a lidar com todas as dificuldades que enfrentou”, explica a curadora.