Relembre: Vasco vence Flamengo em Manaus e vai à final do Carioca 2016

Manaus – Em 24 de abril de 2016, Vasco e Flamengo se enfrentavam pelas semifinais do Campeonato Carioca, para decidir quem seria o adversário de Botafogo ou Fluminense na grande final. Diante de 44.419 pessoas na Arena da Amazônia, o Vasco venceu por 2 a 0 e caminhou para o bicampeonato Estadual, o que não acontecia desde a década de 1960.

Devido aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, o Maracanã não pôde receber o Clássico dos Milhões. Para não jogar em São Januário, estádio do Vasco, o Rubro-Negro pediu à federação que o jogo fosse transferido para um campo neutro e, por isso, os dois times vieram a Manaus. Leia mais

Josué Delgado, de 38 anos, do Somos Todos Vasco Manaus, conta que foi a todos os jogos do time na capital amazonense, e que o primeiro jogo que assistiu do time carioca foi ainda na década de 1990. Com uma motivação extra para sair do estádio com a vitória sobre o rival, ele diz que “não tem emoção maior” do que ver o clássico de perto.

“Jogar contra o Flamengo é sempre diferente, a expectativa é diferente. Nós vascaínos, querendo ou não, estamos acostumados com o ex-presidente Eurico Miranda, que disse que ‘jogo contra o Flamengo é um campeonato à parte’. O time deles veio marcar território em Manaus. A gente veio de resultados positivos, jogadores experientes em boa forma, nosso capitão Rodrigo jogou muito aquele jogo. Foi uma tarde de domingo inesquecível”, relata o torcedor.

Josué Delgado e a diretoria do Somos Todos Vasco Manaus, na partida contra o Flamengo
Josué Delgado e a diretoria do Somos Todos Vasco Manaus, na partida contra o Flamengo | Foto: Reprodução/ Acervo pessoal

Os times

Além de Andrezinho e Riascos, autores dos gols, o Vasco foi a campo com o goleiro Martín Silva; Madson, Luan, Rodrigo e Julio Cesar; Diguinho, Julio dos Santos, Nenê e Jorge Henrique. Além da vaga na final, o cruz-maltino, que não perdia para o rival desde março de 2015, garantiu também a extensão da sequência de vitória para nove jogos e, curiosamente, a última vitória sobre o Flamengo.

“Esse foi um jogo que estávamos bem confiantes e, por acreditar muito no time, a expectativa de título era grande. O time de 2016 poderia não ser o melhor taticamente, mas tinha muita vontade e dá uma saudade. Sem dúvidas, o Nenê era o melhor jogador.  A vitória foi justa, mas dois a zero foi pouco, poderíamos ter feito quatro gols facilmente”, destaca Carlos Silva, presidente da Vasboêmios.

Vasboêmios na Arena da Amazônia, com bandeira do craque Edmundo
Vasboêmios na Arena da Amazônia, com bandeira do craque Edmundo | Foto: Reprodução/ Acervo pessoal

Aos 27 anos, sendo sete deles dedicados à liderança da torcida organizada em Manaus, Carlos destaca a felicidade de ganhar do rival, ainda mais “dentro de casa”.  Em contraste com o momento atual do time, ele destaca que a má gestão definiu o futuro distante da última vitória sobre o Flamengo.

“Enquanto não mudar, o Vasco continuará a montar times medianos e com risco de cair sempre”, destaca ele.

Flamengo

Do outro lado, o técnico Muricy Ramalho escalou o Flamengo com Paulo Victor no gol; Rodinei, César Martins, Wallace e Jorge; Willian Arão, Cuéllar e Mancuello; Gabriel, Marcelo Cirino e Paolo Guerrero. O time estava pressionado, prova é que antes da partida começar, os jogadores ignoraram o protocolo de entrada em campo e partiram correndo até o centro do gramado para fincar uma bandeira, deixando os ‘mascotes’ no túnel de acesso.

“Achei um grande desrespeito a tudo que cerca uma partida de futebol. A gente sabe que têm as crianças rubro-negras que querem ter essa oportunidade, e deixar elas plantadas ali esperando. Não levá-las para dentro do campo, acho que já é um desrespeito ao adversário, ao árbitro, ao público também”, foi o que disse o maior ídolo do clube, Zico.

Bandeira da Torcida Vasboêmios em Manaus, na Arena da Amazônia
Bandeira da Torcida Vasboêmios em Manaus, na Arena da Amazônia | Foto: Reprodução/ Acervo pessoal

Por ser dono da melhor campanha na Taça Guanabara, o Vasco tinha a vantagem do empate. Os comandados de Jorginho tiveram uma superioridade tão notável que o placar poderia ser mais elástico e os torcedores rubro-negros, inclusive, deixaram o estádio antes do término da partida.

O jogo

Aos 15 minutos da primeira etapa, o zagueiro Wallace, do Flamengo, deu uma prévia do que estava por vir. Após tomar cartão amarelo partindo para cima de Nenê, protagonizou uma saída de bola completamente errada e Riascos, que não tinha nada a ver com isso, puxou contra ataque fulminante que terminou com a conclusão de primeira do meio campista Nenê, livre na entrada da área, por cima do gol.

Quem vê o atual campeão brasileiro e da Copa Libertadores com o dinamismo que Gabigol, Bruno Henrique, Arrascaeta e Éverton Ribeiro proporcionam, nem imagina como era a criação de jogadas com Mancuello, Gabriel e Marcelo Cirino. O time tomou um verdadeiro “nó tático” do 3-5-2 armado pelo cruz-maltino, que abriu o placar aos 22 minutos

Riascos recebeu pela esquerda, já dentro da área e encarou a marcação de César Martins. Com dois cortes, nas palavras de Josué Delgado, “quebrou a coluna do zagueiro” rubro-negro e cruzou novamente para Nenê. Dessa vez, o zagueiro Wallace cortou em cima da linha, mas a bola sobrou para Andrezinho. De primeira, ele bateu rasteiro no meio do gol e Paulo Victor não defendeu: 1 a 0 para o Vasco.

Precisando de dois gols para ter chances de classificação, o Flamengo se lançou mais ao campo de ataque, mas sofria com a pouca movimentação de Cirino e Gabriel pelas pontas, além da marcação pesada em Guerrero. O peruano ainda conseguiu levar perigo ao gol de Martín Silva aos 26 minutos, mas o goleiro uruguaio fez boa intervenção. O Vasco ainda poderia ter ampliado no fim do primeiro tempo, mas Cuéllar foi providencial para evitar o gol de Riascos.

Momento do primeiro gol do Vasco no jogo, marcado por Andrezinho
Momento do primeiro gol do Vasco no jogo, marcado por Andrezinho | Foto: Sandro Pereira/ Eleven

Segundo tempo

No segundo tempo, o Flamengo voltou mais ligado e, empurrado pela torcida, que representava maioria na Arena da Amazônia, iniciou uma pressão ao adversário. Logo aos 30 segundos, Willian Arão acertou um belo chute que foi recebido com uma bela defesa do goleiro do Vasco. Sem a posse da bola, o cruz-maltino se fechava com uma linha de cinco jogadores na defesa, mais quatro jogadores no meio de campo e apenas um à frente.

Aos 11 minutos, o time comandado por Jorginho provou que, além de volume de jogo, a precisão na conclusão das jogadas é primordial no placar final. Riascos novamente apareceu no 1×1 dentro da área, desta vez driblando o lateral Jorge. Na conclusão, Paulo Victor espalmou para dentro da área e a bola rebateu no zagueiro Wallace, morrendo no fundo das redes: 2 a 0.

Riascos, autor do segundo gol do Vasco no jogo
Riascos, autor do segundo gol do Vasco no jogo | Foto: Carlos Gregório Jr./ Vasco da Gama

Perdido no jogo, o apático Flamengo teve a atuação ilustrada pela entrada de Alan Patrick no jogo. O meia, natural de Catanduva (SP), entrou no intervalo e logo aos 33 minutos, foi expulso por falta dura em Yago Pikachu, deixando o time com um a menos até o fim da partida.

Experiente, o Vasco apenas administrou o resultado e confirmou a vaga na final do Campeonato Carioca. “Nossa forma de jogar é a mesma sempre, procurando o resultado, procurando a vitória do início ao fim, e a torcida nos empurrou para jogar melhor ainda e graças a Deus vencemos e convencemos”, comentou Nenê ao término da partida.

Título e recordes

Com a vitória sobre o Flamengo, o Vasco deu sequência ao tabu que se iniciou em março de 2015. O cruz-maltino não perdia para o rival por oito jogos e a sequência resultou no título invicto do torneio. Pelo Campeonato Carioca, são 239 jogos entre as duas equipes na história , com 94 vitórias rubro-negras , 77 cruz-maltinas e 68 empates.

Torcida Somos Todos Vasco Manaus na partida contra o Flamengo, na Arena da Amazônia
Torcida Somos Todos Vasco Manaus na partida contra o Flamengo, na Arena da Amazônia | Foto: Reprodução/ Acervo pessoal

Na final do Campeonato Carioca, o cruz-maltino enfrentou o Botafogo – que derrotou o Fluminense por 1 a 0 – e se sagrou campeão. O título veio com um gol solitário de Jorge Henrique no primeiro jogo, desta vez no Rio de Janeiro, e um empate por 1 a 1 na segunda partida.

Esse foi o primeiro bicampeonato Estadual do Vasco desde que venceu o Carioca consecutivamente em 1962 e 1963 e o jogo marcou a quebra do recorde de público na Arena da Amazônia, que antes pertencia a Honduras x Suíça, pela Copa do Mundo, que contou com 40.322 pessoas.